28/03/2013

O Mestre, Cinco Pães e Dois Peixinhos

Colagem sobre fotos das gravações da Minissérie Amazônia (Tv Globo, 2006) no CICLU - Alto Santo, com fotos antigas do Mestre Irineu e seu Memorial. Foto do aparelho de rádio do Mestre Irineu, que tocava também boa música popular brasileira, e o forró era sempre oportuno a celebrar a grande alegria da fé. Com essa canção do grupo Xote Santo, homenageamos a humildade e a perseverança do Mestre Imperador Raimundo Irineu Serra (1890-1971), como exemplo de verdadeiro cristão para todos seus companheiros na Doutrina. FELIZ PÁSCOA !!!

25/03/2013

Em defesa de Mestre Alfredo



Tanto se discutiu a crise da Igreja Católica Apostólica Romana no advento do Papa Francisco, que se obviou entre os grupos aiauasqueiros a ausência de uma discussão de nível da presente crise do Cefluris (hoje Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal) nos círculos mais gabaritados a compreendê-la dentro de um ponto de vista sociológico. Faltam os devidos parâmetros de neutralidade talvez, já que injunções do esforço coletivo por legalizar a Ayahuasca no Brasil sempre pressionaram a se tomar um alinhamento ou outro, e uma política mal conduzida acirrou ânimos em ambos lados do “front”. O fato é que, legalizada a Ayahuasca e inserida no sistema, o Cefluris, que já foi a maior instituição religiosa usuária da bebida no mundo, passa necessariamente por uma crise de legalização interna, uma crise de legitimação de seu sistema interno de gestão. O tempo evidenciou falhas do sistema, ilegitimidades, falsificações ideológicas, e a solução implica em correções de trajetória que, no caso de Roma levaram à renúncia do papa tradicionalista, e no caso do Mapiá, confrontam o chamado Mestre Imediato, Padrinho Alfredo Gregório de Melo, e sua releitura personalista da Doutrina de Raimundo Irineu Serra, o Mestre Imperador.

Relembrando o passado, Alfredo nasceu Walfredo, em um seringal no extremo ocidente da Amazônia brasileira, conheceu a religiosidade cabocla dos amazonenses desde o berço, o espiritismo de mesa branca ainda na infância, e chegou no final da adolescência ao centro do Mestre Irineu, no Alto Santo, levado pelo pai, Sebastião Mota de Melo, em um episódio de cura. Através do Santo Daime desenvolveu seu talento musical, dando voz ao movimento “Nova Bandeira” com que se instituiu na Colônia Cinco Mil, comunidade formada por seguidores de seu pai enquanto líder espiritual, uma igreja separada do Alto Santo, um movimento próprio. É muito importante levar em conta isto: que a intenção original da primeira formação do CEFLURIS em 1974 não foi a de substituir o CICLU (Alto Santo), contrapondo-se a este, e sim de organizar a própria casa. Padrinho Sebastião não pretendeu ser o sucessor do Padrinho Irineu, chefiando o Alto Santo. Ele nunca teve essa ambição. Apenas quis ter a mesma liberdade de conduzir seus trabalhos em casa, com o seu grupo, que tinha recebido do Mestre Irineu quando se tornou feitor de Daime, e que não reconhecia em ninguém autoridade para retirar essa liberdade de preparar o próprio sacramento e escolher como e quando utilizá-lo com sua comunidade. Assim como em Porto Velho havia o CECLU (Centro Eclético de Correntes da Luz Universal), fundado pelo Mestre Irineu, e este não era formalmente submisso ao CICLU, assim se inspirou o novo Padrinho Sebastião e passou a exercer o dom de sua liderança. Assim começamos.

Em 1976, o Padrinho Sebastião havia recebido as primeiras levas de jovens de fora do Acre em sua comunidade, e em um grande rasgo de generosidade acolheu o uso da SM propondo-lhe a nova Doutrina de Santa Maria, mãe das mães. Quis dar a SM o status de Rainha, defender o seu uso santo como o uso que havia do Santo Daime. Foi um passo maior do que as pernas: seus amigos que haviam vindo do alto comando do Mestre, ao saber da novidade, o abandonaram. Uma seguidora entrou depois em um processo obsessivo, e teve de ser oculta da família porque seus irmãos eram do Alto Santo e não podiam ficar sabendo da SM. O Padrinho sentiu o peso da responsabilidade assumida e caiu em uma crise familiar, começando a deixar crescer aquela barba que depois seria usada como seu ícone máximo. Em 1977, a crise se aprofunda com o assassinato de um jovem macumbeiro a quem se havia dado autorização de dirigir trabalhos de quimbanda na Cinco Mil. No Acre, o Cefluris era considerado por todos os demais grupos usuários como uma enorme ameaça à legalidade do uso do Daime, pelo mau uso que faziam do nome de Raimundo Irineu Serra em seu centro, já que o Mestre não ensinara tais práticas nem seria de concordância com estas. Alfredo, junto com a diretoria do Cefluris, procurou resposta no Daime e no Mestre Irineu, e a decisão foi prosseguir com o que havia feito, para ver o que se podia fazer.

Aconteceu em 1978 a primeira abordagem do Conselho Federal de Entorpecentes, órgão do Ministério da Justiça. Foi o primeiro exame, quando o Cefluris começou a aprender como se relacionar com as autoridades federais, as pessoas que representavam o Brasil culto e letrado, as pessoas com formação universitária capazes de auxiliá-los a se inserirem no sistema. Conseguiram passar nesse exame e entender como estar sempre bem com as leis. Entenderam que seria necessário mais privacidade, e partiram para ocupar um seringal abandonado na floresta, o Rio do Ouro, onde os trabalhos espirituais pudessem ter mais liberdade. Enquanto isso, a igreja da Colônia Cinco Mil continuaria como vitrine, recebendo os novatos e preparando-os para aprofundarem seu estudos no Daime posteriormente no contexto do seringal. As dificuldades financeiras eram muitas, o sofrimento grande, e o Cefluris não fazia mais sombra ao Alto Santo. Em 1980 faleceu o presidente do CICLU, Leôncio Gomes, e mais uma vez o Alto Santo se dividiu, sendo erguida nova sede com a direção de Francisco Fernando Filho, o Tetéo: neste caso sim, uma crise sucessória pretendeu mudar a sede, mas já quando da criação do Cefluris, o que se quis foi criar uma sede própria, e não substituir a anterior, é importante ressaltar este aspecto. Em 1982, uma plantação de SM é apreendida na Colônia Cinco Mil, e isso reforça amplas suspeitas de que o Cefluris estivesse no Rio do Ouro para exercer ações clandestinas. De um modo pouco usual, o INCRA se interessou rapidamente na questão do Rio do Ouro e ofereceu ao Cefluris um outro lugar na floresta, só que no Estado do Amazonas, em um lugar onde a Escola Superior de Guerra já desenhara em suas aulas de geopolítica planos de formar um Parque Nacional. Alguns anos depois, os membros do Cefluris aprovariam, sob a batuta do Padrinho Alfredo, a Floresta Nacional do Mapiá-Inauini, com a qual o Padrinho Sebastião nunca concordara. Seria a Pax Romana, terminou sendo a Catedral da Floresta.

Em defesa do Mestre Alfredo Gregório de Melo, devemos dizer que seu hinário enquanto “Nova Bandeira” foi o primeiro hinário recebido nas cordas de um violão, o primeiro hinário interpretativo da Doutrina. Antes, no Alto Santo, os trabalhos rituais e o recebimento dos hinos vinham acontecendo sem instrumentos, baseados na simples audição e na capacidade de expressão musical de um irmão dentro do estado de “miração”. A partir da ampliação de sentidos proporcionada pela “Santa Maria”, e graças ao domínio crescente sobre o instrumento guitarra, o hinário do filho do Padrinho Sebastião passou a figurar como o exponencial do centro e seu principal fio condutor (lembremos que o hinário do Padrinho, “O Justiceiro”, foi encerrado em 1979, e por um longo período, antes que viessem os hinos da “Nova Jerusalém”, já era o hinário do Padrinho Alfredo que dava as cartas). Isto porque quem deu suporte ao pastorado de Sebastião Mota foi sua família direta, representada por aquele filho que deu voz ao Projeto Fluente Luz Universal desde o início, e que comandava o Cefluris "de fato" desde a saída para o Rio do Ouro. De certa forma podemos dizer que Alfredo conquistou primeiro a liderança da própria família, graças a eloquência de seu hinário, para então passar a exercer a liderança da comunidade, tanto o comando administrativo quanto o espiritual. O pai investiu nele como um novo Mestre, o revestiu da aura de Rei Salomão como se o hino 50 do Mestre fosse uma profecia e não uma celebração do próprio Mestre Irineu como bom juiz: isto foi uma interpretação pessoal da Doutrina, assumida como justa, quando de parte do Alto Santo se recebiam recados de que eles podiam “levar a farda e os hinos” mas não tinham o “segredo” do Mestre, e portanto, não tinham a legitimidade de serem portadores da Doutrina e distribuidores de Daime. Deu-se carta branca ao Mestre Alfredo desde 1979: e ele se sentiu um vencedor, pois conseguiu reunir um staff antes inimaginável e se ver como chefe do maior centro da Doutrina do Mestre Irineu no mundo, ou seja, um mais que legítimo sucessor na Doutrina. “No mundo não há segredo”, era o que dizia um hino do Mestre...

Acontece que o Mestre Alfredo teve de “comprar um peixe” para chegar a este ponto. O peixe que ele comprou foi um modelo de gestão de seu centro que, passados agora vinte anos da Eco92 e diante de um mundo cada vez mais veloz e transparente nas grandes redes sociais, se mostra insustentável. O Mapiá não é sustentável, o Cefluris não é devidamente sustentável. O Cefluris não foi capaz de formar um corpo de colaboradores a fim de pensar um modelo próprio de comunidade, de gestão solidária, de autossustentabilidade. Ora, se pensarmos que tem mais lucro quem compra dos ricos para negociar com os pobres, do que aqueles que compram dos pobres para negociar com os ricos, por que motivo em vez de se investir na aquisição de insumos baratos nas grandes cidades para produção e comercialização na Amazônia, gerando renda para o Mapiá, se adotou o modelo de querer produzir algo beneficiando matéria-prima da floresta para abrir mercado selecionado nas grandes cidades do planeta? Porque esse era o pensamento da época, a forma de ver dessas pessoas cujo interesse básico sempre foi pura e exclusivamente ter acesso ao Daime em seus próprios locais, “vamos celebrar a Natureza e a Paz”, e poucos tinham interesse de se dedicar a erradicar a miséria nas áreas ribeirinhas da Amazônia ou mesmo entendiam tal necessidade.

Que interesse tinham em criar empregos para colocar mais gente pobre do Purus para se escorar lá no Mapiá? O interesse era o turista místico, o aprendiz de xamã, o intelectual alternativo, uma outra classe de gente. Foi aí que se perdeu uma grande batalha. Sem perceber, o modelo de comunidade florestal que era desenhado em Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro, pela equipe do competente Alex Polari, foi esvaziado. O Mapiá se tornou um sanatório, e tudo passou a ser quantificado e qualificado de acordo com uma regra política que determinava que o Cefluris organicamente centralizava-se no Mapiá atendendo a uma demanda de caridade não local mas “amplamente” humanitarista. Uma catedral na floresta é um polo de atração turística. Mas não sendo um turismo sustentável, o culto nela desenvolvido deixa de ser visto como de serviço devocional. O próprio Mestre Alfredo já vem preferindo seus torreões e torrões no Céu do Juruá. O modelo de gestão que não funcionou no Mapiá, esse precisa ainda ser substituído e não replicado para comunidades indígenas como alguns ameaçam fazer em breve, por isso a vinda da AMAGAIA para formar uma ecovila na Boca do Mapiá significará uma guinada no sentido do Cefluris mais comunitário, onde a irmandade seja percebida através do pão que realmente se ganha junto para se comer na mesma mesa, e não apenas através do pão que é oferecido para poder se sentar a mesa.

Da “Nova Era” a “Nova Dimensão”, a interpretação que o Padrinho Alfredo faz da Doutrina de Juramidam está sendo cada vez menos bem interpretada. A legalização do Santo Daime realizada, depois que os centros todos se deram conta de que respondiam individualmente por suas obrigações junto a Constituição Federal Brasileira, e não em grupo, agora é o tempo da legitimação dos comandos. Há muito comando estelar no mundo da Ayahuasca, e o do Mestre Alfredo é um dos tais, que tão generoso em liberdades foi que em muitos casos resultou visto como omisso. De certa forma, o Cefluris chegou a um ponto de crescimento tão disfuncional dentro desse sistema de gestão equivocado, que passou a “franquiar” pequenos núcleos com interesse de aumentar a base de arrecadação financeira de suporte da matriz. Como não houve nenhum projeto de criar mecanismos de geração de renda para os membros do Cefluris na Amazônia, o sacramento do Santo Daime é que passou a ser fonte de renda dos moradores daquelas comunidades daimistas na Amazônia. O pior: em muitos casos, a principal senão única fonte de renda. É um modelo administrativo claramente perverso, depreciador da Doutrina e injusto para com o passado de etnoterapeuta do Padrinho Sebastião e, antes dele, do Mestre Irineu. Isto não era necessário para que a Doutrina chegasse ao mundo todo, como defendem os criadores de biografias cor-de-rosa: vamos quebrar estes falsos paradigmas, afinal, conhecendo a Verdade é promessa de Cristo que dela nos vem a Liberdade. A quem vendeu esse modelo de gestão, pouco lhe importava estar vendendo peixe cheio de espinhas, e quem comprou teve interesse, mas seguramente não fazia ideia do espinheiro que teria que aturar para corrigir décadas de desatino depois disso.

O que conta a favor do Padrinho Alfredo,sem dúvida são as inúmeras curas e bênçãos que seu hinário e o trabalho de seus seguidores vêm trazendo em vários cantos do planeta, levando luzes da Doutrina do Mestre Irineu e do Padrinho Sebastião para muitos corações. O que devemos compreender de toda sua grande luta, seu grande estudo a frente do Cefluris é que às vezes a gente quer consertar algo mas não pode intervir porque ao consertar esse aspecto, outro aspecto existe que pode se desconsertar, e a gente acaba passando por ineficiente. Quem trabalha com uma questão, para ser imparcial, deve poder analisar a situação e conhece-la de todos os lados, para emitir um juízo mais justo, e certo, porque o errado só se corrige com o certo, e não com o “quase certo”. Em nome do Mestre, Alfredo topou aguentar muita bordoada. E digamos: bom juiz, sábio, conselheiro, tudo isso foi o Rei Salomão, podemos ler no Livro de Eclesiastes. Ao Mestre Alfredo falta ainda conseguir traçar novas diretrizes para o Cefluris, e renovar os seus quadros. Até o ano 2000, a rede de comando do Padrinho Alfredo alcançou proporções inimagináveis para o Cefluris dos anos 80, mas depois disso houve uma reconvexão que veio se acentuando até 2010 quando da tragédia do Céu de Maria, em São Paulo, onde vários equívocos do sistema por fim foram se desvelando. Em 2012, a “cúria” do Mapiá entregou os cargos, assumindo a administração do Cefluris uma equipe que se anunciou “de transição”. Foi observado que a “cúria” não realizou uma desejável autoanálise no momento de renunciar aos seus postos de subcomando, apenas passou o bastão sem nenhuma autocrítica.

A favor do Padrinho Alfredo, podemos dizer que, o modelo de gestão adotado pelo Cefluris foi aquele que lhe foi disponibilizado pelas pessoas em quem necessitou depositar sua confiança, e todas as deturpações do “modus vivendi” da comunidade foram resultantes de movimentos maiores da humanidade, foram alterações e problemas que aconteceram em todas as famílias do Acre, em todas as famílias do Brasil, e o centro trabalhou essas questões. Está bem, mas as coisas não se resolvem por si só, o Daime não é uma cornucópia nem uma panacéia, e Deus deu ao homem a capacidade de gerir o seu destino, de pautar o seu livre-arbítrio através do esclarecimento e da ampliação da capacidade de diálogo, para que um Império do Amor floresça. É isto que se espera de um Mestre, reconhecer os próprios desvios de trajetória originados por circunstâncias materiais ou espirituais, a fim de sempre dispor da autocorreção e do autoaperfeiçoamento. Reinterpretar sua própria Doutrina, é o que se espera do Padrinho Alfredo Gregório de Melo: que governe seu povo com muita alegria na responsabilidade, e também muita fé na saúde, que o Mestre dos Mestres com certeza não desampara nem desamparará ninguém, jamais.

Confiram os hinários do Padrinho Alfredo em Daime.org

Sol, Lua, Estrela



"O símbolo de São Jorge tocando a língua do dragão, como representação do processo de individuação, de tomada de consciência, sendo feita sob a supervisão de ser divino (São Jorge) é comum em várias religiões sob forma variada, pois que o TAO, por exemplo, representa justo isso, que em todo Yin existe em potencial o Yang e que em todo Yang existe em potencial o Yin; e também que em todo ser inconsciente está a consciência em estado potencial. Por este motivo, São Jorge, o guerreiro, Pai, Sol,Yang, consciência, está também na Lua/inconsciente como diz o ponto: “São Jorge está na lua…” e Ele é Ogum Beira-Mar ou Sete-Ondas, simbolo igual ao de Jesus à beira do lago de Genesaré olhando para este., o Ser Divino que assiste nossa evolução."

Fonte: José Maria Acquaviva, em "Povo de Aruanda"